Educação: um ministro Monthy Python


Ainda não há muitos anos, o Instituto Piaget fazia publicidade aos seus cursos de formação de professores, dizendo que nunca poderia haver professores a mais ou qualquer disparate do género.

É claro que já então toda a gente sabia que havia professores a mais, pelo que a opção pela docência foi para muitas pessoas uma escolha consciente dos riscos. O facto de o Ministro da Educação dizer agora (em entrevista ao semanário "Sol") que há professores a mais não surpreende, portanto.

Mas se o Ministro Nuno Crato diz evidências incontornáveis (a natalidade está a diminuir e há professores a mais), só o tempo dirá até que ponto não está a exagerar, apenas a pensar pela cabeça do Ministro das Finanças e se, de facto, é para isso que lhe pagamos o ordenado.

À primeira vista, uma coisa é a evidência matemática de que menos natalidade há-de exigir menos professores em geral. Outra, é o Ministro impor que as turmas tenham 30 alunos - sejam de alunos diferenciados ou problemáticos - criar gigantescos e desumanizados agrupamentos escolares, não contar com as transferências que necessariamente se vão verificar do privado para o público dos filhos de uma classe média empobrecida, cortar disciplinas (impossível negar que terá muita razão nestes casos), acabar com apoios académicos a alunos menos bons porque sem pais que os acompanhem por não terem instrução ou empenho para tanto, e depois dizer que há professores a mais. Parece a lógica dos Monty Python, não?

Já uma vez o disse aqui, e (quase) me repito agora, há que optar: ou queremos uma "escola inclusiva" com vista a um país genericamente mais qualificado, e nesse caso turmas pequenas e apoio académico extra aos que dele mais precisam, seguindo o famoso modelo finlandês, é uma prioridade; ou somos indiferentes à dimensão das escolas e das turmas, e a esses apoios, e teremos uma "escola exclusiva", de elites, apostada apenas nas crianças cujos pais colmatam, em casa ou com explicações extra, o que elas não apreendem na escola (para além dos que meritoriamente vencem mesmo no deserto).

Um país de alunos medíocres (em "eduquês", com baixo rendimento escolar) é, obviamente, como um país que sofre uma epidemia por não ter feito o devido programa de vacinação. A falta de qualificações de cada uma das crianças onerará as gerações futuras em know how, eficácia, produtividade e, the last but not the least, em capacidade de cidadania que só a valorização pessoal e acdémica de cada aluno assegura.

Constato, mais uma vez, e até prova em contrário que, em Educação, Portugal parece insistir em apostar no vermelho mesmo que lhe garantam que neste casino só sai preto. Parece uma fatalidade.

Sem comentários: